A Juíza e a sua história – Dra. Rosi Santana – TJAC

A Magistrada Dra. Rosi sempre acreditou que a educação seria o meio adequado de transformação social para a sua vida.
Por Danusa Andrade.
Publicado em 01/03/2024 às 13:27. Atualizado há 2 meses.

LogoA Magistrada Dra. Rosi Santana, do Tribunal de Justiça do Acre

Nesta semana, no quadro A Juíza e a sua história, a ANAMAGES relata a trajetória superação e de resiliência da Magistrada Dra. Rosi Santana, do Tribunal de Justiça do Acre, que assumiu a Magistratura em 2022.

Natural de Pajeú de Flora, uma comunidade no sertão da Bahia, Dra. Rosi é filha de um casal de trabalhadores rurais semi-alfabetos. Primeira dos seis irmãos a concluir um curso superior, a Magistrada já demonstrava na infância a sua inclinação para o ofício ao tentar resolver conflitos entre os irmãos e desde essa época, dizia que um dia se tornaria Juíza.

Dra. Rosi sempre acreditou que a educação seria o meio adequado de transformação social e aos 12 anos ela se mudou com a irmã para cidade em busca de instrução. Em um cômodo cedido por um amigo, a Magistrada suportou viver em um ambiente precário, buscando manter-se em trabalhos como o de babá e o de empregada doméstica para arcar com despesas.

Aos 18 anos, Dra. Rosi se mudou para o Espírito Santo, onde concluiu o segundo grau em supletivo e com ajuda de um professor ingressou em um curso técnico em edificações – formação que lhe deu renda suficiente para o acesso à faculdade de Direito.

Ao concluir a graduação, que contou com bolsa, Dra. Rosi atuou como advogada pelo período de três anos e decidiu correr atrás do seu sonho, dedicando-se integralmente a ele.

Depois de toda a luta e adversidades, os resultados de seus esforços foram colhidos com a primeira colocação no concurso da magistratura acriana. Confira a entrevista.

ANAMAGES: Pontue as principais dificuldades que a senhora tem vivenciado na carreira e o modo como esses desafios lhe fortalecem.

Dra. Rosi Santana: Em pouco mais de um ano de Magistratura, o maior desafio tem sido exercer uma carreira nova e também as peculiaridades do estado do Acre. No processo de promoção para a minha titularização em que eu tive a minha inscrição indeferida por supostamente ter dois processos conclusos tendo sido considerados como retidos injustificadamente mesmo eu tendo justificado que eles não apareciam como conclusos por um erro de servidores, eu precisei da intervenção da ANAMAGES em minha defesa nesse processo administrativo e tivemos sucesso. Esse foi o meu maior desafio e a forma como isso me fortaleceu foi pensar que mesmo sendo Juíza eu vou sempre precisar de suporte, de apoio.

ANAMAGES: Qual a sua maior inspiração na Magistratura?

Dra. Rosi Santana: eu tenho várias inspirações na Magistratura, entre elas o Dr. Salomão, de Colatina/ES, e eu sempre dizia a ele que se um dia eu me tornasse Juíza, eu gostaria de me parecer com ele. Além de muito competente tecnicamente, ele tem uma gestão incrível da unidade. Os processos que são da unidade dele tramitam com uma celeridade que nenhuma outra unidade local consegue alcançar.

Eu também admiro o Ministro Luís Roberto Barroso pela forma como ele conduz e decide. A Dra. Ana Carolina é outrafigura inspiradora; ela foi Juíza no Pará e acabou pedindo exoneração da Magistratura. E do Acre temos muitos colegas que são inspiração para mim, como a Desembargadora Eva Evangelista de Araújo Souza, nossa decana.

ANAMAGES: Como a senhora observa a questão de gênero na Magistratura?

Dra. Rosi Santana: Infelizmente ainda é uma questão que a gente observa em todos os tribunais a grande diferença na quantidade de mulheres, especialmente nos tribunais, ocupando cargos de desembargadores. Na Magistratura de primeiro grau da minha turma foi bem equilibrado, mas no geral ainda há um desequilíbrio muito grande e isso é a expressão da realidade, porque as mulheres não têm tempo para estudar, que cuidam da família, que trabalham fora, e normalmente os homens quando trabalham fora e chegam em casa podem estudar enquanto as mulheres em casa cuidam dos serviços domésticos, mas pelo nosso tribunal eu percebo que essa realidade tem melhorado.

ANAMAGES: Comente como a senhora concilia família com o exercício da profissão.

Dra. Rosi Santana: Eu tenho uma família pequena, somos apenas eu e meu marido e ele é muito parceiro comigo e respeita o meu trabalho. Quando eu estou em casa, normalmente eu estou trabalhando, mas ele que me ajuda a conciliar tudo.

ANAMAGES: Resuma o que a Magistratura representa em sua vida.

Dra. Rosi Santana: A Magistratura é a minha vida. É tudo para mim, o que eu sempre sonhei, o que eu sempre quis e às vezes eu nem acredito que eu saindo de onde eu saí, vindo da família de onde eu vim, tão simples, tão pobre, de dinheiro e de conhecimento, eu ainda não consigo acreditar que eu fui abençoada com essa realização porque é tão difícil a gente conseguir trabalhar na profissão que a gente escolheu e eu graças a Deus sou muito abençoada por ter conseguido. Para mim, não tem sábado, domingo, feriado que eu não pense na Magistratura, que eu não levante pensando em um processo, e eu faço isso sem nenhum cansaço porque realmente a minha carreira é tudo para mim.