A Juíza e a sua História – Dra. Maria Zilma Capibaribe – TJCE

Aos 85 anos, Dra. Zilma resgatou as vivências do início da carreira, os desafios e alegrias da profissão nessa entrevista para a ANAMAGES.
Por Danusa Andrade.
Publicado em 25/09/2024 às 10:59. Atualizado há um mês.

Logo A Juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, Dra. Maria Zilma Capibaribe

Nesta quarta-feira, a ANAMAGES traça um panorama da trajetória da Juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, Dra. Maria Zilma Capibaribe, um ícone da representação da força feminina na Magistratura Estadual.

Primeira filha do comerciante Augusto Barbosa da Silva e da costureira Raimunda Alves da Silva, Dra. Maria Zilma teve uma infância livre e feliz em sua cidade natal, Pacoti, no Ceará, até a mudança com a família para Fortaleza.

Em 1960, quando se preparava para o vestibular com a intenção de tornar-se médica (seguindo um sonho de seu pai), ela foi surprendida com a morte prematura de seu irmão caçula José Augusto, de apenas cinco anos. Esse triste episódio a despertou para a corrente da cocriação quântica defendida por autores como Wallace Lima, Penney Peirce, Anthony Robbins.

A inclinação para o mundo jurídico e a vocação para a Magistratura surgiram nesse período, a partir de um convite feito pelo seu pai para assistir um julgamento no tribunal do júri, ocasião em que ela sentiu a emoção dos debates entre Advogado e Promotor de Justiça e vibrou em silêncio diante do veredito do Juiz.

Com o fundamental incentivo do então namorado o economista, advogado e auditor de tributos, Nilo Fialho Capibaribe, Dra. Zilma se lançou na carreira de Direito e se transformou em uma advogada destemida, defensora dos direitos humanos e comprometida com a Justiça. O casamento ocorreu em 1964 e depois vieram quatro filhos e nove netos.

Em 1968 Dra. Zilma começou a se preparar para concursos públicos. Em 1977, ano em que viveu provações pessoais, ela iniciou a atuação como advogada de Ofício (advogada dos Pobres) e retornou à sua cidade natal para desenvolver esse propósito. Aos 45 anos, Dra. Zilma decidiu seguir a sua vocação e em 1986 assumiu o cargo de Juíza de Direito do TJCE, judicando emPacoti, Mulungu, Pedra Branca, Crato e Fortaleza, onde se aposentou em2009.

Aos 85 anos, Dra. Zilma resgatou as vivências do início da carreira, os desafios e alegrias da profissão nessa entrevista para a ANAMAGES. Confira.

ANAMAGES: Fale sobre os maiores obstáculos na carreira.

Dra. Zilma Capibaribe: Obstáculos na carreira de Juiz sempre existiram e sempre irão existir. Nosso maior problema era chegar na comarca e não ter condições de moradia e de serventuários da justiça, nem mesmo material como papel oficio. Ou seja, condições de trabalho.

Enquanto nossos pedidos não eram resolvidos, tínhamos que recorrer à Prefeitura da cidade. A execução e o cumprimento da pena eram um martírio.

ANAMAGES: Como era a realidade da mulher magistrada quando a senhora assumiu o concurso no TJCE?

Dra. Zilma Capibaribe: Em 1986, quando assumi a árdua, porém nobre missão de "ser julgadora", a mulher estava sendo observada com mais credibilidade e sem preconceitos.

ANAMAGES: Qual o seu posicionamento sobre as alterações tecnológicas que Poder Judiciário foi incorporando ao longo do tempo?

Dra. Zilma Capibaribe: No cenário atual, a integração da tecnologia no exercício da magistratura é inegável. Em muitos anos no exercício da Magistratura, eu observei uma evolução constante que acelera os processos judiciais e os tornam mais acessíveis e transparentes para a população. Em minha análise, a adoção de ferramentas tecnológicas no judiciário é fundamental para uma justiça mais eficiente e equitativa.

Eu tive a honra de receber uma homenagem do pesquisador de Inteligência Artificial e artista visual Leo de Oliveira. Ele compôs uma música que celebra os avanços tecnológicos que apoiam o nosso trabalho no judiciário e também ressalta a importância de abordarmos a nossa função com humanidade e compaixão.

Essa harmonia entre inovação e empatia é o que verdadeiramente define a minha missão como Magistrada. A tecnologia, quando usada corretamente, otimiza o nosso trabalho e amplia a nossa capacidade de entender e atender melhor as necessidades daqueles que buscamos ajudar.

ANAMAGES: A Dra. teve uma experiência muito exitosa na Magistratura. Qual foi o seu maior estímulo para entregar sempre o seu melhor no trabalho?

Dra. Zilma Capibaribe: O meu sonho era ser Magistrada. Até chegar o dia de vê-lo realizado, eu estudei, trabalhei, fui dona de casa, vi meus filhos crescerem, e meu anjo de guarda sempre sussurrando: não perca o foco. Eu tive que me reinventar, mudar muitas coisas, mas o que nunca mudou foi meu sonho: SER MAGISTRADA.

Asseguro-lhe que todas as homenagens, honras e títulos que recebi ao longo dos 27 anos como magistrada, devo acima de tudo a Deus que habita em meu ser, à minha carreira de 15 anos como advogada militante, ao meu marido Nilo e aos serventuários da justiça que de livre e espontânea vontade colocavam- se à disposição do Poder Judiciário.

Eu sempre me apresentei como serva da justiça dizendo: eu tenho fome de amor e sede de justiça. Espero que um dia justiça e paz se abracem.

ANAMAGES: Que conselho a senhora gostaria de registrar para aspirantes à carreira da Magistratura e que mensagem a Dra. pode transmitir para novos juízes?

Dra. Zilma Capibaribe: Se conselho fosse bom, com certeza seria vendido. Eu dou o meu próprio testemunho: a vida é uma luta entre o bem e o mal. Se você descreve a vida como uma luta, provavelmente acredita que as pessoas estão sempre lutando umas contra as outras, mas se você diz que a vida é uma prova, a percepção muda. A conclusão disso é que a única profissão que julga o homem é a de Juiz, pois nem os sacerdotes julgam. Nós julgamos, mas não somos Deus.

A mensagem que eu tento transmitir para os novos juízes é: não perca o seu sonho. Para ser juiz, deve-se passar pela experiência profissional de ser um bom advogado com prática de defender os direitos humanos. Mesmo que não resolva o problema, você vai compreender que há sempre uma maneira de mudar as coisas. Mesmo que você apenas se interesse em ouvir e dar uma palavra para as pessoas que te procuram, leve em consideração os conflitos do outro. Doe-se de maneira altruísta e você experimentará o máximo em realização e alegria humana.

Minha mensagem final: Não sonhe em ser Desembargador ou Desembargadora. Nosso maior desejo é ser Ministra. Nesse caso, devemos ser dignos de nossa missão de Magistrado. O Magistrado que cumpre bem o seu ofício é considerado ministro de Deus.